quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O sorriso

Não há o que possa ser feito. Disse o homem de barbas grisálhas sentado naquele canto escuro com seu copo meio cheio - mas diria ele meio vazio - e seus óculos pousados na ponta do nariz. Seu olhar era calmo e profundo e era muito difícil saber o que se escondia por trás do que pareciam grandes bolas negras envolvidas por pálpebras caídas.
Não há nada mais. Você viu todos os sinais, por que continua a ignorar os fatos? Tão tolo quanto qualquer outra criatura esperançosa, cheia de sonhos e vontades impossíveis. É disso que se alimenta, de desilusão!?
Ele não falava comigo, mas eu estava perto o suficiente para ouvir com exatidão e tomar pra mim suas palavras amargas e cheias de rancor. Por um momento me petrifiquei ao ouvir a verdade lançada tão sem jeito ao mundo. Ah! espero que nenhum sonhador ouça essas coisas, farpas jogadas e que grudariam nos dedos e jamais sairiam.
O homem se deteve por um tempo com as mãos juntas sobre a mesa, como se esperasse uma resposta, como se ainda esperasse uma última coisa acontecer. Olhei com cuidado em direção a ele e o que vi foi realmente intrigante. Um sorriso se formando num rosto triste. Era uma noite diferente por mais que parecesse normal e sem nenhuma relevância.
O homem grisálho de pálpebras caidas, óculos sobre o nariz, olhar negro e profundo, mãos juntas com um copo pela metade. Era só um homem triste que sorria. Por que aquele sorriso não cabia a ele que nem acreditava nos sonhos, e enxergava os sinais com destreza.
Me senti estranha na hora, não sabia o que aquilo queria dizer e quase que por um impulso fui em direção àquele homem. Talvez ele com seu problema resolvido, suas perguntas respondidas e seus sinais intepretados poderia me dizer como não se peder nas próprias expectativas.
Ele segurou o copo por um tempo, olhando com curiosidade para o conteúdo. Piscou algumas vezes, e como se soubesse o que fazer tomou seu último gole. Levantou-se decidido e corajoso, e antes de sair me olhou surpreso. Agora eram minhas mãos que estavam juntas sobre a mesa, esperando o desfecho apropriado para aquela noite. E ao me ver e se deter por um momento, sorriu-me e partiu.
Olhei para o meu copo pela metade e a mesa agora vazia onde antes havia um homem triste sorrindo. Foi rápido e confuso e nada poderia ter me aterroziado mais do que suas palavras e seu sorriso. Só acho que no fim ele exergou o copo meio cheio e se assustou com as possibilidades.
As possibilidades são sempre assustadoras e me fazem sorrir. Acho que foi isso. Deve ter sido.

D.

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