terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ode à Baco

Falta-me algo, aquilo que não sei o nome, não sei a cor, não sei o gosto. Falta expelir esse grito preso na garganta, falta o vinho pra me libertar.
Falta braços, pernas, falta a paz, a guerra, o mundo, o ar.
Falta o fogo, o gás, o isqueiro. Falta a luz, a inspiração divina, a inspiração humana, a crença, o mito, o mínimo da verdade, o máximo da mentira.
A outra metade, aquele pedaço.
A decisão, o seu corpo no meu, seu cheiro, a sua verdade.
Sinto esse vazio, quero o sentimento puro, a busca pelo que disseram que existe nas pessoas, quero encontrar todo o sentimento magnífico, escondido em você, escondido em mim, quero que ele brote com toda a intensidade necessária do momento, embalado pelo tango mais quente, mais fervoroso existente.
Ter tudo e nada ao mesmo tempo não é satisfatório. Quero cheio, que transborde!
Que nome dão pra isso? Não nomeio coisas que nunca senti. Nunca vivi.
Quero a certeza. Isso me falta.
Falta você. Me envolva, me prove, me sinta, me veja! Estou aqui, pronta.

J.

sábado, 21 de agosto de 2010

Para um observador distraído

Naquela tarde tão estranha, onde ela procurava mais uma vez se encontrar e se entender para que pudesse parar de magoar a todos, mas uma vez ela enxergava além do que podia, mas não encontrava a resposta que queria. Aquela tarde em especial parecia muito mais exata que as outras, e ela tentava acreditar que poderia conseguir.
O que ela não sabia, era o quanto demoraria pra descobrir que aquele estado de espírito não era passageiro, e que todos os seus medos não eram em vão, e que suas esperanças eram tão efêmeras quanto o sol que a aquecia no inverno.
Saberia um dia que tudo pelo o que chorou era apenas um pretexto para escapar do som da sua alma, que gritava enquanto ela vivia mediocremente.
Por isso, ela procurou ver no mundo aquilo que ninguém mais via, procurou sentir como ninguém mais sentia e procurou sofrer, pra que pudesse amar.
Naquela tarde estranha, ela prestou atenção nas sensações, e em todas as pessoas simples e aleatórias que passavam por ela. Sentiu o sabor do café, prestando atenção em toda a explosão sensorial que seu corpo pudesse transmitir, e olhou as cores da cidade como se fossem muito mais vibrantes aumentando o contraste entre o azul e o amarelo, entre o verde e o laranja, e tudo o mais que pudesse saltar aos seus olhos atentos que buscavam o invisível.
Naquela tarde tão estranha, que talvez pudesse decidir o seu destino, ou nos acontecimentos posteriores que poderiam modificar o destino de outras pessoas. Mas ela não pensava em outras pessoas, mas somente nela. E isso era o que ela mais odiava em si mesmo, esse egoísmo premeditado que não conseguia evitar, por isso queria saber como amar, como era esse sentimento torto e cheio de contradições. E procurava. Procurava em tudo e em todos, e nunca encontrava. Sempre queria mais do que tinha, sempre esperava mais do que recebia, e sempre amava mais do que era amada. E procurando o amor não percebia que já o tinha encontrado, e não só encontrado mas como tinha amado. E amava intensamente, e não percebia.
Amava e magoava, por que achava que não amava e que não sabia amar. Por que pra ela, amar era se doar, e em sua cabeça nunca encontrara isso em ninguém, essa doação mútua e simultânea.
Ah, como era tola essa menina. Seus medos que não eram em vão. Suas tristezas que não eram em vão. Sua alma que ardia no peito.
O que poderiam fazer por ela? Ninguém jamais saberia o que aquele coração inquieto precisava.

D.